Quarta-feira, 25 de Abril de 2007
Já te construí, podem cair os estilhaços,
Ninguém me tira daqui, podem soltar os palhaços,
Os que assustam as criancinhas, os que amordaçam os povos,
As galinhas eram novinhas, quando nos fizeram seus ovos,
Condena-me, por cortar o ar com panos molhados,
Desenrola-te de mim, quem dera ficar mas estamos cercados,
Nada temo, todo o vidro hoje tem coração de betão,
Na minha redoma, nada derruba o meu condão,
Choram-se os meus e os teus, por ver por fim,
Na luta infame do desejo, hoje não estás mais em mim,
Mas na redoma, tudo fica longe do que sempre alcancei,
Barriquei-me cá dentro e ainda nem jantei,
Sabe-me bem, ver as pedras bater, no vidro que tem dom de proteger,
Nada passa, tu até podes tentar, mas o arquitecto aqui sou eu,
Olha que bate no meu telhado e depois ressalta para o teu,
Já parecia fácil de mais, ter de escolher um só destino,
Nas escadas formigas fazem o pino,
Riem-se umas das outras, como eu de ti agora,
Os meus lábios vão sorrindo enquanto meu coração chora,
Perdi-me de ti, perdeste-te de mim,
Talvez por isso me tenha barricado aqui,
Minha redoma é gigante, nada me toca aqui dentro,
Construí e decorei, fiz nascer de cimo ao centro,
Podem cair os estilhaços, mandem soltar os palhaços,
Porque eu aqui de dentro já mandei apagar os nossos passos.