Segunda-feira, 12 de Fevereiro de 2007
Desprendo-te de mim, precioso mal que condeno,
Decreto as sentenças das almas que hoje governo,
Máscaras de mais, pedi de mais aos meus sentidos,
Personagens com suas cores, seus papeis, seus tecidos,
Organizo papelada, para dar rumo a esta farsa,
Forço memórias a sair, não sei se isto passa,
Disfarçam-se defeitos proclamando que são virtudes,
Escondem-se carinhos porque hoje se sentem rudes,
De caçador a presa passo de inconstante a seguro,
Das malícias que juntei dou ao papel o mais puro,
Sou folha em branco, riscada e refeita de frente e verso,
Não sou o que mostro, sei de mim e confesso,
Sou mais, melhor do que vês, porque só vês o que queres,
Talvez seja pó, amargo ou doce, que me provem às colheres,
E digam de sua justiça se mereço este meu canto,
Do purgatório ecoa a sentença “tu nunca foste nenhum santo”
Saberei enumerar os pecados, de todos sou culpado e vitima,
Sonhei de mais, desde o que quis à literatura mais intima,
Torna-se claro que nada temos em comum, nem pele, nem alma,
Do doce e amargo que sonho hoje, nem fel, nem calma,
Falta-me o ar, só eu sei o quanto lutei para não cair,
Era fácil fechar os olhos, fácil não ouvir, fácil desistir,
Quem diria que o personagem deste enredo continua forte,
Talvez tenha sido louco, talvez tenha tido sorte,
Não me peças que abra portas, nem sei se me mereces encontrar,
Era tudo bem mais fácil quando era ingenuidade, vivendo a vida, a sonhar.