O que fazer entre um orgasmo e outro,
Quando se abre um intervalo
Sem teu corpo?
Onde estou, quando não estou
No teu gozo incluído?
Sou teu exílio?
Que perfeita forma de ser é essa
Quando em ti sou apartado?
Que noutra forma toco
Quando não toco teus seios, coxas
E não recolho o sopro da vida de tua boca?
O que fazer entre um poema e outro
Olhando a cama, a folha fria?
Affonso Romano de Sant’anna
Vejo-me à noite, atento a qualquer som,
Estou bem assim com,
Doce ilusão desse som
Amo-te,
Esquecimento atroz,
Aquele que se omite de nós,
Que nos adormece e destrava os nós,
Que nos apaga o peito, cala a vós,
Vejo-me à noite, atento a qualquer som,
Tranquilo, assim é bom,
Com aquele copo meio vazio,
O breu é hoje a luta do cio,
Onde as ondas adormecem as memórias do meu rio.
Luzes,
De todas as cores, nascem sabores
Desço ruas, agarro flores,
Digo adeus aos meus amores,
Eu só sei viver assim, na correria calma sem fim,
Onde o quente e frio mas nunca morno se tocam.
Luzes,
De todas as formas, morrem no chão,
Quando o sol lhes dá razão,
E se apagam sem querer,
Quero aprender…a ver morrer a noite,
Sem te lembrar, sem te esquecer, sem me perturbar em fim,
Nesse quente e frio mas nunca morno impregnado em mim.
Luzes,
De todos os mitos, embalam teus gritos,
Quando me agarras com força, marca-me, marca-me, marca-me,
Não me basta ser marcado por dentro, eu bem tento…
Nesse quente frio mas nunca morno, que às vezes, tanto lamento.
Já vimos corpos no chão…
Não te segurei,
Com a força certa, com o jeito correcto,
E do presente futuro apenas surge o pretérito perfeito.
Vidros rasgados porque o tempo nada perdoa,
Não te agarrei,
Do tempo errado fica o momento certo criado,
Como a linha no traço, no papel apagado.
Tiramos do tempo os segundos de abandono,
As tristezas a seu dono e aqui fico,
Perdido, escondido…
Sou só mais um corpo no chão.
O que vais fazer agora?
Tarde de mais, o imediato é passado,
Pedaço de papel enrolado e arrumado,
Que ninguém mais vai ler,
Gosto em saber, que não tens nada a fazer,
O que vais fazer agora?
Que os sinónimos hipócritas de amizade te afogam o corpo,
És só mais um peso e reflexo, mais um esboço,
Do que querias ser, querias dizer, querias fazer,
Afinal? O que há por acontecer?
Braços a quebrar, pernas a ceder,
A pele queimada do sol, os dentes a ranger,
O que vais fazer agora?
Neste momento simples em que me torno vigente,
Dessa actualidade metafórica que te intitula meu amigo,
Já não sou o teu abrigo, não sou quem te tira do castigo,
Não sou quem imaginas que serei, nem nunca o tentarei ser,
Braços a escorrer, pernas a doer,
Foi o fim, do aconteça o que acontecer.
Quem de nós dois ficou para trás?
A noite já não me diz nada, não me diz onde estás,
As sombras escorrem pelo chão, gritam não te vás,
Mas foste…foi assim que te perdi.
Não há história sem sequestro,
Nem melodia sem maestro,
Ouve-me a ultima vez, não mexas os pés,
Hoje podíamos ser navio, proa e convés,
Mas tu não ouviste…foi assim que te perdi.
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